Devo ficar em silêncio por muito, muito tempo
Vaguear por todo o lugar, para frente e para trás
Para tremer, para sentir
Para ter algo a dizer
Meu amigo, não tenho nada para te oferecer além deste silêncio que te fará fugir
Ou esta palavra sobrecarregada que não sabe mais onde pousar

Quanto mais você pede, mais você insiste
Mais eu me escondo, mais eu resisto
E eu posso ler em seus olhos
Que você se lembra por que nos vemos pouco
Você tinha esquecido, agora se lembra
Sou um velho, sou uma criança
Eu bebo água, não tenho novidades
E quando se aproximam demais, eu me afasto

Você me diz que tudo se dança, até o constrangimento
Até o ódio, até a errância
Que todos dançam a solidão
O estado de sítio, o estado de emergência

Devo amar por muito, muito tempo
Amores mortos e enterrados
Nos ver ainda o tempo todo em todos os lugares
E inventar encontros para mim
Devo não entender por muito tempo
Por que ninguém conseguiu se render
E abraçar o outro
Para ouvir o que não sai

E ao quebrar os espelhos, ao explodir minha memória
Eu sei, não parece assim
Eu preciso rir, rir de mim
Eu preciso de cartas anônimas me acusando de todos os crimes
E na manhã da minha vida, ter feito muitos inimigos

Você me diz que tudo se dança, até o constrangimento
Até o ódio, até a errância
Que todos dançam a solidão
O estado de sítio, o estado de emergência

Você me diz que tudo se dança, até o constrangimento
Até o ódio, até a errância
Que todos dançam a solidão
O estado de sítio, o estado de emergência

Preciso lutar por muito, muito tempo
O passeio e a discussão
Preciso explorar minha época
E tudo o que ela provoca
Contemplar meus contemporâneos
Que sublimam suas tristezas
Observar o mistério e o heroísmo
De dançar sob o capitalismo

Você me diz que tudo se dança, até a vergonha
Que sobe, que sobe, até a ausência
Que tudo se dança
Que tudo se dança

Você me diz que tudo se dança, até o constrangimento
Até o ódio, até a errância
Que todos dançam a solidão
O estado de sítio, o estado de emergência

Você me diz que tudo se dança, até o constrangimento
Até o ódio, até a errância
Que todos dançam a solidão
O estado de sítio, o estado de emergência

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