Faz pelo menos 230 anos
Que eu não venho mais ao bairro
Que eu não me sento mais neste banco
Para ver a vida se amassar

A gente fumava nossos baseados neste parque
Frequentemente antes da aula de inglês
A gente compartilhava os fones de ouvido
Deitados em nossos primeiros arrependimentos

Então, eu perdi todo mundo de vista
Eu não sabia muito bem onde me colocar
Eu circulei tanto quanto pude
Com a esperança de um dia renascer
Não sei por que penso nisso
Talvez sejam os 27 que estão chegando
Bem-vindo ao Clube das pessoas sem idade
Que só brilham à deriva

Eu espero alguém
Que não vem
Eu espero alguém
Que não vem

Faz pelo menos 230 anos
Que eu não venho mais ao bairro
Que eu não me sento mais neste banco
Para ver as árvores se curvarem

Sob o peso dos astros que giram
Eu venho de uma cidade onde chove
Eu posso inventar sóis
Hoje, não posso fazer melhor

Não posso fazer melhor do que enfrentar
As correntes que querem me colocar
Esses escondidos podem fazer suas orações
Mesmo aos trinta anos eu não serei trintão
Não planejo baixar a guarda
Nem hastear a bandeira branca
Não é porque estão me olhando
Que vou calar meu vulcão

Eu espero alguém
Que não vem
Eu espero alguém
Que não vem
Eu espero alguém
Que não vem
Eu espero alguém
Que não vem

Eu espero alguém que me dirá
Eu também te procurei por muito tempo
Eu também quebrei minha voz
De tanto gritar ao vento
Eu espero alguém que me dirá
Não, você não estragou tudo
Você fez bem, tão bem
De seguir em frente de cabeça baixa

Eu espero alguém que me dirá
Eu também me lembro dessa classe
E de nossas risadas acima de tudo
Para sufocar a angústia
Eu espero alguém que me dirá
Eu também não me recupero
Desses anos
Desses anos
Eu espero alguém
Que não vem

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