Eu te amo como na roleta russa
Eu te amo, mas não tenho mais amor
Eu te amo, mas eles levaram tudo de mim
Eu te amo, te deixo aqui

Eu te amo como posso te amar
Eu te amo, mas nada mais me salva
Eles dobraram meus ideais
Como se diz: o incidente está encerrado

Eu te amo em todas as fotos
Eu te amo em todos os poemas
Eu te amo, mas disse demais
Eu te amo em todas as orações

Eu te amo como sei te amar
Eu te amo, mas estou exausto
De tantas cruzes, aqui, nas minhas costas
Como se diz: o incidente está encerrado

Eu te amo na mesa redonda
Quando os amigos oferecem bebidas
Quando eu orquestro o fim do mundo
Eu te amo sem um ponto de referência

Eu te amo em todos os futuros
Em todos os violinos do espaço
No barulho, no murmúrio
E em todos os corações quebrados

Eu te amo no último corredor
No vão de uma porta entreaberta
Eu te amo nas minhas falhas de memória
Em todas as ressacas

Eu te amo como na vitória
Quando éramos dois furacões
Órfãos contra as muralhas
De uma época em que éramos grandes

Eu te amo por mil veleiros
E então em todas as vozes
Do meu amor de concreto armado
Que o tempo não vai danificar

Eu te amo como na roleta russa
Eu te amo com uma arma apontada para o coração
Eu te amo nas minhas últimas palavras
Como se diz: o incidente está encerrado

Eu te amo em todas as minhas feridas
Em todos os meses de fevereiro
Eu te amo em todas as minhas rupturas
Em todos os amores fuzilados

Em todos os amores da juventude
Em todos os amores de sempre
Em todos os amores proibidos
Em todos os amores ilícitos

Em todos os amores ao contrário
Em todos os amores impossíveis
Que nunca passarão o inverno
Em todos os amores indizíveis

Em todos os amores tortos
Quando eu balanço entre seus dedos
Quando me agarro aos seus nervos
E o amor não sabe disso

Em todos os amores invisíveis
Que se traíram e então?
Que relêem cartas ilegíveis
Em todos os amores até a morte

Nos amores fora de tempo
Que pulam no coração e na boca
E que se beijam com os dentes
E que choram de prazer

Que envelhecem para nunca envelhecer
Que terminam para nunca terminar
Que morrem para nunca morrer
E que crescem e crescem

E que persistem...

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