No fundo de uma gaveta
De uma escrivaninha toda de madeira
Eu encontrei por acaso
Nossa primeira vez
Esse pedacinho de papel
Telefone na mão
Eu me lembro de te ligar
E o café do dia seguinte

No fundo da minha gaveta
Ainda há nossos começos
Fotomaton de uma noite
Onde bebemos demais
Perdíamos o apetite
Ríamos por qualquer coisa
O mundo era tão pequeno
E nossos olhos
Nunca longe

No fundo da minha gaveta
E meus dedos que tateiam
Que reconstroem nossa história
Os bilhetes para Lisboa
Aquela decolagem famosa
Achamos que íamos ficar lá
Eu releio em nossas páginas
Todas aquelas que dobramos
Eu releio em nossas páginas
Todas aquelas que dobramos

No fundo da minha gaveta
Há um monte de besteiras
Arrependimentos, desventuras
E toda essa inveja
Sob uma pilha de contas
A poeira, a rotina
A necessidade de aventuras
A falta de adrenalina

No fundo da minha gaveta
Eu encontro sua carta
Escrita com tinta preta
E talvez chorando
Uma carta manuscrita
Como não se faz mais
Quando li "eu te deixo" na sua carta
Choveu
Quando li "eu te deixo" na sua carta
Choveu

No fundo de uma gaveta
A gaveta da minha vida
Quando meu amor vai embora
Há o ombro de um amigo
E um dia sem prever
O bom tempo afasta a chuva
Fechamos uma gaveta
E outra se enche

No fundo de uma gaveta
A gaveta da minha vida
Quando meu amor vai embora
Há o ombro de um amigo
E um dia sem prever
O bom tempo afasta a chuva
Fechamos uma gaveta
E outra se enche

Fechamos uma gaveta
E outra se enche

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