Penso em ti, meu amor
Quando procuras no teu armário
Quando hesitas todos os dias
Entre umas calças de ganga, um vestido preto
Fazes a pergunta
"Vão me incomodar?"
E é o tipo de pergunta
Que não deverias ter que fazer

Penso em ti, meu amor
Quando caminhas na rua
Finges sempre
Não ter ouvido nada
E aceleras o passo
Assobiam-te, insultam-te
E agem como machões
E dizem-se adultos
E dizem-se adultos

Penso em ti, meu amor
Quando entras no metro
Com todos esses abutres
Com instintos de animais
Gostaria de estar no teu lugar
Para que não tivesses que suportar
Esses olhares nojentos
Que te impedem de dormir

Penso em ti, meu amor
Mas sinto-me impotente
A estupidez está sempre a correr
E isso arrepia-me
Mas em que mundo vivemos
Para que uma mulher se pergunte
O que pode ou não vestir
Sem se tornar um pedaço de carne
Sem se tornar um pedaço de carne

Desculpa-me, meu amor
Por essas horas de dilema
"Não achas isso muito curto?"
"Devo vesti-lo mesmo assim?"
A liberdade de uma mulher
Está sempre ausente
Assim que ela se proíbe
De ser uma mulher elegante

Desculpa-me, meu amor
Por essa enxurrada de confusões
Quase sempre esconde
Uma grande falta de coragem
Poderia ser a irmã deles
Ou a filha deles naquela estrada
Quando insultam uma mulher
Insultam todas
Insultam todas

Desculpa-me, meu amor
Por ser da mesma espécie
Que esses galos de capoeira
Que esses brutamontes sujos
Mas a ternura de uma mulher
Será sempre mais bela
Que a infame estupidez
Dos homens sem cérebro

Desculpa-me, meu amor
Desculpa-me por todas elas
Aquelas que têm medo ao virar
De uma rua escura
A liberdade de uma mulher
Seja ela morena, seja ela loira
A liberdade de uma mulher
Vale todo o ouro do mundo

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