Mamãe nos deu o nome de cigano e partiu
Meu pequeno, não chora, ela tá melhor agora,
O bom é que no céu talvez nem faça frio,
Bora, sacode essa poeira, arruma essa memória,

Neurose aqui não é bom terreno pra fazer morada,
Por mais que desmorone, eu sei, a chuva não para,
Também lembrar dela, linha de frente da família,
Shiu, acende uma vela, seja firme nessa trilha,

Lembro de nós acordando, ela já tinha saído,
Nós cambaleando de sono, ela nem chegou ainda,
Tipo: bença mãe pras estrelas,
Até pra nós ser forte na ausência ela foi certeira,

Sempre foi guerreira, nordestina, brasileira
Onde só reclama da chuva só quem nunca amargou a seca,
“fica de olho no feijão” “tira a roupa do varal”
Veja, com as próprias mãos ela ergue outro carnaval,

Vai e vem, vendaval e segue a correria,
Quantas noites investidas na tentativa de um novo dia,
O seu abraço servia como anestesia,
Incrível como dissolvia toda agonia,

“Desculpa, Mãe, por vezes fui fraco,
Ainda sinto teu perfume mermo distante do frasco,
Virei refém dessa saudade que não cabe no peito,
Troquei de mal com Deus por me levar meu espelho,

Ah, se eu soubesse que aquela era a última ceia,
Teria bem nos algemado naquela mesa,
Mãe, fica em casa, por favor, não vai
Ah, se eu soubesse nunca teria desejado ter um pai”

(Reportagem – Interlúdio )

(Onni - Verso 2)

Respira, não é culpa nossa,
Como viver tudo isso sem assumir os mesmos traços?
Ok, vou ser forte dando voz às minhas fraquezas,
Cara, eu te perdooo, não precisa gritar na minha cabeça,

Calma, respira, não é culpa nossa,
Nascemos encurralados com a responsa de ser ponto de virada,
Em apenas uma vida herdamos tantos traumas,
Levamos quantas vidas pra encontrar a própria alma?

Calma, respira, a luta sim é nossa,
Mãe, confesso que ainda perco meus passos,
Sem dó dos pulsos quando vejo esses traços
Em mim e meus comparsas, merda, somos traças,

Calma, respira, assuma tua força,
Viemos pra ser curandeiros e não caçadores (2x)

(Mensagem – Interlúdio )