A chuva veio pra ficar, seu moço
o vão do passo vai ficar comprido
por isso hoje não encurte atalho
o aprevenido nunca foi vencido
a enchente é grande tá de galho a galho
fique na estância, descanso os estribos

O aguaceiro já branqueou o campo
e aquele moço não ouviu o velho
largou a trote tapeando o chapéu
mesmo avisado não levou a sério
ainda gritou montado em seu mouro
não há razão pra tanto mistério

Me foi contado por quem presenciou
a triste cena lá do outro lado
eram tropeiros que também a espera
que lá do posto aguardavam ilhados
que um campeiro, muy bem a cavalo
desemponchado se largou a nado

Contrariando a nossa lei divina
Foi desafiar a mãe natureza
pagou com a vida, sua teimosia
na fúria louca de uma correnteza.

Baixaram as águas começaram as buscas
daquele moço e o pingo companheiro
e lá na cruza da velha picada,
enredados no arame cavalo e campeiro
Partiram juntos pra dar seguimento
as campereadas em outros potreiros

Nas noites claras de lua crescente
se ouvem gritos pelo campo a fora
alguns relinchos de tropél de cavalo
e bem clarinho rosetear de esporas
são aquelas almas matando a saudade
que campereiam depois vão embora.