Sobre a perna estendo o pala,
Pra um filho que se engarupa…
Que sabe das minhas lutas,
E as “ figueiras” que plantei.
Mas em ti, me levantei,
E então entendas meu pranto:
Hoje sou eu que te canto
Por tudo que eu conquistei.
Hoje és tu que me escuta…
Tenho tanto a lhe dizer:
Em ti busquei renascer
E desde então sou mais vivo.
Em ti, firmei o estribo
Pra enforquilhar-me em teu som;
E vivo em ti bandoneon
Pois tu vives comigo.
Quando meus nervos cansaram
Seguimos firmes na estrada…
Eu e tu, nesta jornada,
De musical sentimento.
Sem ressábios nem lamentos…
E sem “chorar as pitanga”,
Pois somos dois nesta canga
Atados no mesmo tento.
Quando te pego em meu colo
Sobre minhas pernas cansadas,
Renasço nas alvoradas
Do teu clarim madrugueiro…
Somos nós dois por inteiros
Sonando a vida num tom,
E por isso bandoneon
És meu amor primeiro.
Recitado:
Meus amigos no costado
Seguem junto estrada a fora
Nesta irmandade sonora,
De raiz e fundamento.
Nos igualando no intento
Seguindo um norte no trilho,
Cada qual trazendo um filho
Que chamamos de instrumento.

E quando cerro meus olhos
Recuerdos gastam carona,
E a mesma voz da bandona
Vêm a estalos de mango...
Candeeiros trazem o lume
Clareando meus pensamentos
Pois nunca semeei lamentos
Para animar um fandango.
Só tu sabes de mim:
Meus amores e quimeras,
E das tantas primaveras
Que florescemos iguais.
Meus anseios ancestrais
Que evoco quando te agarro:
Memórias de pedra e barro
“Do tempo de nossos pais”.
Quando te pego em meu colo
Sobre minhas pernas cansadas,
Renasço nas alvoradas
Do teu clarim madrugueiro…
Somos nós dois por inteiros
Sonando a vida num tom,
E por isso bandoneon
És meu amor primeiro.
A vida é luta e vos digo:
És minha arma de guerra….
Por onde canto minha terra
E topo o mundo de frente.
Tenho ânsias permanentes
De sustentar o legado
Rememorando o passado
Das coisas da minha gente.