Nunca pode compreender por que motivo o destino,
Tinha lhe furtado o mundo - do olhar - ainda menino;
Pecados de outras vidas - serviriam de pretexto,
Ou quem sabe ignorâncias do seu tempo barbaresco...

Foi crescendo aos tateios - junto de sentidos raros,
Como agradecendo aos céus por ter lhe dado olhos claros;
Deus é quem concede a vida e sabe o que faz com ela,
“E quando fecha uma porta abre dez ou mais janelas...”

O campo – a primeira escola - pois seu mundo era rural,
E tudo o que existe nele - lhe serviu de material....
Aprendeu palmeando tranças qual mais resistência tinha,
E pelos sons dos cavalos - sabia quem ia ou vinha...

O mais cego deste mundo é aquele que não quer ver!
“A gente colhe o que planta – também faz por merecer...”
Nosso mestre é quem nos cerca - junto do pranto e o sorrir,
Pois mais do que enxergar - é perceber e sentir...


Não delimitou seu mundo ao para-peito do rancho,
Embora a um cordeiro cego sempre vão sobrar caranchos...
E até nisso nos bolichos - soube aprender calado,
A voz que soa sincera - e a de um mal intencionado...

Rumbeou um dia este moço em direção ao povoado,
Onde lá - lhe apresentaram - o estudo adaptado...
Formou-se e voltou aos pagos, pois nunca olvidou dos seus,
Pois deficiente é a fé - dos que duvidam de Deus...

O cheiro e o som da Querência voltou a sentir com gosto,
Beijou os pais com ternura mesmo sem saber seus rostos...
O que não sabe – adivinha – já dizia o velho Braun,
E só chega onde se quer – lembrando o ponto inicial...

Infelizmente são poucos que sustentam a verdade,
Que às vezes nossa cegueira é por falta de humildade...
E seguem o dito antigo - que pra crer temos que ver
Esquecendo que sentir nos da razão pra viver...