MOURAS
(Valsa)

“Habita mais do que o suor dos meus em cada pedra;
Testemunhas silenciosas de um tempo que não pude ser “...

Sabe a cor moura das pedras
A cor das mãos calejadas;
Que deram à forma do tempo
A cada uma empilhada.

Sobre a saudade do campo
Nas contas da vida inteira;
Vestindo a paz dos galpões
Despindo o céu das mangueiras.

Onde no olhar do antigo
Dormem bem mais do que assombros;
De garras, laços, esporas...
E a “polvadeira” dos tombos.

Sabe a cor moura das pedras
A voz do vento em vigília;
Que vem soprar seus lamentos
Sobre a ‘razão’ das coxilhas.

Onde resiste em ruínas,
Na cor das mãos calejadas;
A forma antiga do tempo
Em cada pedra empilhada...

Sabe da “flor” das manhãs
Dos buçais nas mãos ‘canhotas’;
Tranças pra ‘dor’ dos serenos,
Nas crinas em maçaroca.

Que beberam junto às noites
“Gotas” de luas prateadas;
Que aqueceram nos fogões
Mais que ilusão das guitarras.

Pra intimidade de um verso
Que permitiu renascer;
Por silêncio, outra face,
Do tempo que não pude ser.