ANDEJO

Silêncio, campo dobrado
Carqueja e caraguatá
Pingo bueno pra cruzar
No corredor desses tempos
Laço, presilha nos tentos
O olhar de ver entre as horas
Ouvindo o canto da espora
E o choro calmo dos ventos.

Entre a distância assoviada
De um trote manso ou ligeiro
Nas precisões de campeiro
Nas intenções de andejo
Que talvez guarde um desejo
De versejar campo a fora
Romances, luas, auroras
E os doces lábios de um beijo.

Que talvez guardem segredos
Por trás da trança morena
Na pétala, flor pequena
Que lhe olvidava o sentido
Do verdadeiro motivo
De curvar pasto e flexilha
E ver a lua que brilha
Na luz da prata do estrivo.

Que tantas vezes por lua
Lhe acompanhou noite a dentro
Com o mesmo sentimento
Que nutre a palavra escrita
Que muitas vezes é dita
Na boca de algum silêncio
Ou na voz que ganha os ventos
Pelos idiomas da vida.

Que falam desses andejos
Dos sonhos que vivem em si
Dos sentidos de partir
Das distâncias por cruzar
Da luz que ha de brilhar
Nas sombras de algum passado
Silêncio, campo dobrado
Carqueja e caraguatá.