Sua música é um acinte à inteligência
Com uma cadência que esmola melodia
Uma letra que afronta a poesia
E chamá-la de música é excrescência

Ser medíocre é um direito. Não há pejo
Pra mau som, maus ouvidos vai haver
Só não venha embalá-la pra vender
Sob o rótulo de ritmo sertanejo

Sertanejo é o punhal de Lampião
O rosário de Antônio Conselheiro
A peçonha de Pinto do Monteiro
E um deus de apelido Gonzagão

Dê o nome que queira a seu bodejo
Traduzindo o medíocre do barulho
Só não use este nome, sacro orgulho
De quem é de verdade sertanejo

Como dizer ao rei
Que fez arte nossa saga
E pergunta em voz segura
Como vai nossa cultura?

Como dizer a Gonzaga
Que no Reino da Poesia
Seis cabras sobem no palco
Pra bodejar putaria

Um esfaqueia a sanfona
Mais um xambrega com a dona
Outro espanca a bateria
Não é música, é latomia

E fazem todos iguais
Precisam se nomear
Somos fulanos de tais
Maltratam guitarras roucas

Cospem mau gosto nas bocas
Dos belos sons dos metais
Produtos comerciais
De machismo repulsivo

Tem banda que é peça íntima
Num explícito apelativo
Tem um aí afamado
Que além de ser safado
Se aduba no aumentativo