Eu só comparo esta vida
Com o laboro do vaqueiro
A mocidade é um vento
Rudado e corre ligeiro
Amor desrespeita a trilha
A vitória é uma novilha
Mas pertence ao fazendeiro

Cheguei na porta do céu
Aí gritei ô de fora
São Pedro me disse entre
Eu respondi vou membora

Existi desesperado
Vivia pegando prado
O tempo em seu potro alado
Eu amuntado em Corisco
Como o meu cachorro
Arisco Sobre pedra, sob pau
Entre o galo e o bacurau
Na morte eu tirava um trisco

Mandacarus emboscados
Com seus punhais apontados
Os mil sabres disfarçados
Nos galhos da quixabeira
Lodo, levada, ladeira
Chãs, chapadas, boqueirões
Mouros, mouriscos, mourões
Ô morte e vida vaqueira

Serra seca, rio cheio
Cheiro de moça no arreio
Vaquejando o sonho alheio
Só nunca lacei o fado
Sorte de boi encantado
Por amor e por ofício
Eu zombei do precipício
Vou traquejando o passado