O papel aceita tudo
Verso, desenho ou pintura
A arte copia a gente
Disfarça bem as rasuras...
Tal o fogo tem segredos
Na folha em branco da vela
Minha caneta imagina
O que eu não conto pra ela...
O céu é uma folha em branco
Aos olhos de quem divaga
Dia e noite se toreiam
Um escreve, o outro apaga...
Está na intenção do toso
Onde a tesoura caminha
Nos tentos recém tirados
Quando um trançado se alinha!
A folha é primeira sova
Que escreve em qualquer grafia...
Um potro é todos os outros
Quando uma doma inicia
Tem a moldura da xerga
E estradas da barrigueira
Carrega a marca da estância
Risco de espora e soiteira!
Todas as folhas em branco
Estão ao alcance da mão
Nas ilheiras da cordeona
E no braço de um violão...
Na pele em curva da linda
Mudando o tom que respiro
Nenhum acorde pensado
Vai musicar os suspiros...
No pranto verde do mate
Ou pela vida amassada
Não volta a ser o que era
Pela palavra timbrada
Eu fui uma folha em branco
Antes do primeiro abraço...
E me dei conta que o tempo
É o dono de todo maço!