Horizontes Largos is a song in Portuguese
Enquanto espero chiar a água
viro com calma a erva do mate
dando rédeas ao pensamento
que ultrapassa fronteiras
e cruza os limites xucros
do meu jovem coração...
Vou sorvendo o chimarrão
a longos goles amargos,
na solidão dura e fria
deste final de tarde
na prisão do apartamento.
Nem sei o que é mais amargo.
Se o chimarrão ou a vida
que machuca de saudades
um campeiro que sonhou
em construir rumos novos.
A ilusão muitas vezes
nos afasta de nós mesmos...
Mas quem constrói sonhos suando
e fazendo calos nas mãos
por certo, descobre horizontes
que só mesmo a estrada ensina!
Sonharam também novos rumos
os imigrantes que vieram
semear o grão na terra
para alimentar ideais...
Não encontraram, portanto,
os caminhos já abertos.
Porém, com coragem e fé
trabalharam sem descanso
abrindo picadas largas
pra quem chegasse, seguir!
E mesmo sendo difícil
jamais se desanimou...
Quando se ama de verdade
a distância não separa
e o infinito é logo ali...
Por isso, talvez, que hoje
correm pelo meu rosto
essas lágrimas gaúchas
enquanto tomo meu mate.
E é triste matear solito.
Meus olhos criam imagens
e bem dentro cá no peito
um coração em disparada
me lembra potros no mais.
A cuia ronca pedindo água
imitando criança que chora
quando quer alguma coisa...
Lembro bem da minha infância
quando corria descalço
pelo tapete do campo
sorvendo a essência na terra!
Hoje...
Bem no centro da cidade
Só resta um retrato tímido
com molduras na parede.
Mas sinto ainda,
cheiro de campo e
berro de bois...
Nesta consciência que herdei
dos tempos que já se foram.
O sol desponta aos poquitos;
os compromissos me chamam
e eu insisto em matear.
Cada gole que eu sorvo
traz a essência do pago
me pedindo pra voltar!
Quem deixa raízes na terra
pode estradear muitas luas
mas volta regar a planta.
Por isso, hoje me vou
de malas, erva e cuia,
colher decerto alguns frutos
e semear novas sementes
para alimentar os andantes.
E quando os horizontes largos
me pedirem pra partir,
vou cevar outro amargo
para oferecer aos que chegam
a seiva do amor maior...
Não mais matearei sozinho
porque dividir o pão
é alimentar a própria alma!