Escrevi versos que não posso publicar.
Cultivei afetos que não posso continuar.
Fechei portas que não posso mais abrir.
Soprei verdades que não posso desmentir.

Ando cativo, fixo em meus próprios redemoinhos.
Perambulo firme com pés cravejados de espinhos.
Encontrei no levante do outro uma bengala para mim.
Eu tentei pedir pra alguém que me acolhesse assim.

Me sentia feio, pequeno, fraco e conquistava tudo outrora.

Me sinto belo, gigante, forte e quase me afundo agora.

Sinto saudades de quem não posso sanar.
Noto carências que não posso reciprocar.

Estabeleço regras que não posso cumprir,
pra aplicar castigos que uso para me punir.

Desperto amores sem saber me amar.
Conjugo palavras que não sei explicar.
Verso sobre medos que não tenho.
Sonho sobre desejos que abstenho.

Quero voltar pra onde não sei permanecer.
Quero reforçar laços que não sei mais manter.