REVIVENDO - Clemente Manuel, João Ormond e Zé Geraldo

A NOITE O PENSAMENTO ME MALTRATA
NÃO DESATA UM SÓ SEGUNDO
E PRO MEU MUNDO TENDE A ME LEVAR

POR MAIS QUE EU QUEIRA DESVIAR A MENTE
INCONCIENTE EU VOU VOANDO
E RETORNANDO A INFÂNCIA QUE EU VIVI

REVEJO ENTÃO NOSSA VELHA FAZENDA
O PAIOL JUNTO A MOENDA
O POMAR E AS PLANTAÇÕES

A NOSSA CASA GRANDE COM VARANDA
NO QUINTAL UM PÉ DE MANGA
O CATAVENTO E OS PONTOS CARDEAIS

ME VEJO INDO BEM CEDO PRA ORDENHA
PEGAR LENHA SECA E BOA
E NA LAGOA ATOA IR PESCAR

E AJUDAR O PAI POR SAL NO COCHO
O TORO MOCHO NO ARADO
E EU DE LADO VENDO A TERRA TOMBAR

VER O CAFÉ SECANDO NO TERREIRO
OS CAPACHOS NO CHIQUEIRO
O PILÃO QUEBRANDO A ARROZ

A RODA DAGUA BATENDO O MONJOLO
A MAE NHA MASSA AMASSA O BOLO
MEU DEUS NO CÉU COMO ERA MUITO BOM

JAMAIS VOU ME ESQUECER DAQUELAS PROSAS
TROVAS VERSOS CANTORIAS
E DA FOLIA, DIA DE SANTO REIS

DO PRETO PICOMÂ DAS LAMPARINAS
E DA TINA DE AGUA QUENTE
QUE ERA PRA GENTE O FRANGO DEPENAR

PASSAR O DIA INTEIRO NESSA LIDA
ATÉ O GOSTO DA COMIDA
NUNCA MAIS EU VOU ENCONTRAR

CHEGAR A NOITE COM OS PÉS CANSADOS
DO CALÇADO APERTADO
TER UM CHINELO VELHO PRA RELAXAR

SOLO

RETORNO LÁ DEPOIS DE TANTOS ANOS
NÃO ME ENGANO UM SÓ DETALHE
DESSE ENTALHE QUE NA MENTE ESCULPI

ME VEJO ENTÃO MENINO NESSE SONHO
E É TÃO MEDONHO O IR DO TEMPO
ENQUANTO É TEMPO EU QUERO SONHAR