Barulho de tiro

Pelo som foi pistola

Uma mãe em cima de seu filho

E uma multidão em volta

Criança chorando vendo o seu pai caído no chão

Com o corpo coberto de sangue, gelado, e sem pulsação

A mãe se ampara no neto

A polícia isola o local

Passa a fita na cena do crime

E cobre o corpo com o jornal

O cheio de sangue é forte

O IML demora a chegar

Os parceiros de crime encosta e fala pra mãe

Nóis vai cobrar

A vingança gera vingança

Os manos não estão entendendo

Que é nóis se matando entre nóis

É isso que a polícia tá querendo

O nosso inimigo é outro

A guerra é contra o Estado

A luta é contra a fome que nóis passou dentro dos barracos

Já basta a humilhação da sua mãe pra te ver na visita

Pegando dinheiro dos outros emprestado pra chegar na penita

Seu bolo espedaçado, humilhação, passou por revista

Tirou a calcinha e sutiã, mostrou pra polícia suas partes intimas

Policial na guarita e você na visita

Ela te abraça soluçando e pede meu filho muda de vida

O crime foi mais que as lágrimas de quem te criou

Nem com o sofrimento do seu filho você se importou

A morte é dolorosa, mas quem sofre é quem fica

Vendo sua foto no quadro rezando pela sua alma todos os dias

Me desculpa se estou pesando na sua mesmo depois de morto

É que eu já vivi nessa guerra e também tirei a vida dos outros


Queria tanto que você estivesse aqui

Pra me buscar na escola e me fazer dormir

O tempo passa pai e eu também cresci

Um dia a gente se encontra se Deus permitir

Queria tanto que você estivesse aqui

Pra me buscar na escola e me fazer dormir

O tempo passa pai e eu também cresci

Um dia a gente se encontra se Deus permitir


Velório lotado

Sua casa vazia

Seu filho repetiu de ano

Sua mãe chora todos os dias

Seus parceiros matou quem te matou

Não te trouxe de volta

Uma guerra sem fundamento um pé na rua e outro na cova

Quem vence é quem tá matando

Quem perde é quem tá morrendo

Mais um caixão que desce na cova e outra família sofrendo

Os manos estão tudo armado no bairro a quebrada já não é a mesma

No último assassinato um inocente tomou um na cabeça

Todo cuidado é pouco depois das dez ninguém na rua

De máscara fica difícil reconhecer quem tá na sua

Cada dia tá mais violento, o preço da arma subiu

Oitão os caras pedem três, pistola já tá cinco mil

O tráfico estrala pra comprar as armas no Paraguai

Quem não trafica cata as fitas e joga os moleques no bar

Hoje seu filho é quem tá lá, só mais um soldado

Defendendo seu bairro, ganhando o espaço no aço

Com doze já saiu da escola, com treze foi pego com droga

Com quatorze estava de pistola, com quinze colou de corolla

Respeitado por onde passa, matou uma pá na quebrada

Ganhou o vulgo de talibã

O moleque é sua cara


Queria tanto que você estivesse aqui

Pra me buscar na escola e me fazer dormir

O tempo passa pai e eu também cresci

Um dia a gente se encontra se Deus permitir

Queria tanto que você estivesse aqui

Pra me buscar na escola e me fazer dormir

O tempo passa pai e eu também cresci

Um dia a gente se encontra se Deus permitir