Canto para um Ginete no Infinito is a song in Portuguese
CANTO PARA UM GINETE NO INFINITO
Debruçam meus olhos sobre a cruz estendida...
No semblante paralítico de um velho solitário,
Um sorriso adormecido pela espera incontida,
Ao tom triste de um canto mirando o calvário.
O vento parado maneia as inquietudes ariscas,
Perdidas ao som que me cega aos pouquinhos.
Enquanto a despedida amarga, apressa a partida,
Me encilho de pranto para seguir meu caminho.
Pra quem fora de campo, estrada e mangueira,
Com arreios surrados da lida bruta de um peão,
Deixa um retrato antigo a preservar seu legado,
Todos emoldurados pelos cantos deste galpão.
Chapéu e poncho pendurados entre as frestas,
Desbotam os sonhos que se abrigam por ali...
Na brisa que a manhã derrama em cada aurora,
A alma inquieta procura um corpo perdido de si.
As esporas gastas das longas tardes de primavera
Enfeitam a espera, sob os luzeiros da noite calada...
E repontando a culatra da existência surge uma luz,
Toda vez que o sereno beija a roseta prateada.
Não são só as madrugadas que as deixam assim...
São recuerdos que em mim soluçam as verdades
Da vida tristonha de um velho que choraminga,
Na solidão das auroras, cadenciado de saudades.
Quando partiu o ginete das bombachas puídas,
Algumas lágrimas caídas escorreram sinuelas...
Límpidas, tristonhas e livres da empáfia humana
Que por soberana, anda longe dessas estrelas.
E nesses retratos enxovalhados de tristezas
Refaço caminhos que a alma do campeiro seguiu...
Uma esperança clareia no aço d’alguma espora,
Se o peito implora um abraço de quem partiu.
Tremulam as mãos vazias do velho solito,
Enquanto flores murcham sobre a lápide fria;
Só restam saudades no gris da tarde silente
E no peito da gente a memória é ventania.
Não há trucos, nem canhas, nem prosas largas...
Jogado num canto: Bombacha, espora e chapéu;
Choraminga a doce amada na cozinha do galpão,
O potro clama o ginete, que fora “muntar” no céu!