Quando faltar-me tuas palavras
de paz e conselhos de amigo,
meu rumo seguirá teus rastros
e farei dos teus ensinamentos
os passos da própria vida
que contigo aprendi e sem perder
as origens hei de levar adiante...
Porque meu é o teu caminho
e teu é o sangue
que corre nas minhas veias.


Quando o inverno dos tempos
envelhecer minhas melenas de meses
e branquear com geada minhas utopias...
Decerto,
estarei feliz ao redor
de um fogo de chão campeiro dizendo versos,
tendo no costado um guitarreiro
de porte altivo e vincha na testa,
tirando sons milenares
de uma milonga infinita
que assombra minha própria inspiração...


Quando me faltar erva
para cevar meu mate
e faltar também os olhos-ternura
que transmitem além de paz,
cheiro de campo e cor de céu
da prenda amada...
Meus versos hão de trotear infinitamente,
e eu junto deles
preso nos tentos da alma
partirei em busca de mim mesmo.


Quando a hospitalidade,
- símbolo maior da terra –
for trocada pelo progresso
ambicioso de outros homens...
Eu estarei de pala branco
e lança em punho
para se preciso for, tombar
em nome das raízes e amigos
que através dos tempos
me tornaram mais gaúcho.


Trago assim,
legendas terrunhas e sopro de minuanos
que ninguém conseguirá abafar
porque o eco de séculos
fizeram pátria e tradição...
Da alma-terra que vive em mim.


Alma esta,
herdeira de ideais farrapos
que permaneceram acesos neste peito,
amante da liberdade
com cheiro de pasto e mugido de bois...


A cada nova madrugada
quando os galos cantam
perto da vertente,
meu coração dispara
como potro xucro.
Apesar de ter nascido urbano
entre buzinas, contratos e cercas,
que separam vidas
pela simples falta de ser simples
e acreditar no amor...


Mas,
como é bom parceiro
saber que a distância não separa
nossos corações que continuam juntos e atentos...
Batendo com a mesma intensidade!
Mesmo longe,
os nossos segredos e ânsias
se intercalam no silêncio do olhar...
Inquieto e lindo olhar
que só transmite paz
por puro que é...


Meu pala branco que o vento
faz bandeira asteada nos meus ombros...
Traz consigo as chamas
de muitos foguitos de galpões
e cheiro de picumã.
E traz ainda, o perfume
de alguns cambichos
desta minha sina estradeira...


Porém, quando os teus olhos
deixarem e o som do coração
falar mais alto...
Verás que a vida é linda


e infinitamente linda...
Enquanto eu puder vestir minhas bombachas
e acompanhado de minha mala de garupa
sair estradeando para ver os meus parceiros...
Saberei no íntimo profundo de mim
que sou feliz,
por Ter a lua por parceira
do romantismo gaudério de meus versos.


Enquanto você parceiro
estiver de mão estendida
para me alcançar o mate
nas horas boas e difíceis...
Montarei qualquer pingo-ilusão
de rumo ao galpão,
sem mesmo precisar dar “oh de casa!”,
porque comigo a certeza
que o amor existe...


Trocarei as botas da lida por chinelas
e sentado sobre um cepo vou refletir
este campeirismo espalhado nas gargantas
e n’alma afinada por qualquer milonga.


Neste eterno rancho,
galpão onde os puros sentam juntos
para chimarrear sorvendo o mesmo mate
e beijando a mesma bomba...
O Rio Grande se encontra sempre.


Quem acredita em si, em Deus,
e sabe que o simples
é a maior grandeza.
Trilha o caminho da vida
porque “hermanos” são todos
que acreditam no amor
e preservam suas raízes
com orgulho e telurismo!