Poema em Construção est une chanson en Portugais
Assim como a vida, este poema tropeiro
está em construção.
Buscando um caminho, um abraço fraterno
pro seu coração.
Está se mirando, num silêncio tranqüilo
que sabe aonde vai.
Se auto-adorando, num olhar espichado
da lágrima que cai.
Poema se delineando, num ronco de mate,
numa paz sem igual.
Um verso debochando, com sorriso nos lábios,
simples e natural.
Um pito fechado, fumaça a lo largo,
tempero a vontade.
Um cusquito na volta, junto a um par de botas,
faca de Dom Cássio Selaimen.
Lenço maragato, moldurando o retrato,
em tom angelical.
Par de esporas luzindo, a manhã de domingo,
com traço ancestral.
Poncho de lã castelhana, um frasco de canha,
pra tentear a pegada.
Bombachita surrada e a alma lavada
no sem fim das estradas.
Chapéu desabado, barbicacho judiado,
pelo pó dos caminhos.
Nos sulcos do rosto, invernos de agosto,
ponteando carinhos.
No zaino parceiro, vai seu mundo inteiro,
assim num trote largo.
E conforme a ciência , proseia co’a paciência,
sorvendo um amargo.
Sua estampa é antiga, sabe tudo da lida,
por ser fruto do campo.
Respeito e ternura, olhar na planura,
luz de pirilampo.
Uma faixa serrana, guaiaca campechana,
e um trançado de oito.
Do Zinho guasqueiro, que é flor de campeiro,
ali do Dezoito.
Figura ancestral, um irmão, um igual,
na crioula paisagem.
Melenas ao vento, gaúcho sentimento,
timbrado em coragem.
Faça frio ou faça sol, no amanhecer ou arrebol,
conserva o suor templado.
Tem noções de geografia, algo de melancolia,
decerto, foi seu legado.
E já de cabelos brancos, meu poema verte em prantos,
guarda a voz do coração.
Sabe que é inacabado, tem o dom do inesperado,
sempre estará em construção.