Num bolicho de antanho,
Desses de beira de estrada,
Na prateleira de riba,
Tábua rude falquejada,
De borco sobre uma cuia
Como quem vive com sono,
Um chapéu de aba larga
Aguardava por um dono.

Copado e já desabado
Pra escorrer o aguaceiro
E formar uma cascata
Sobre a capa do tropeiro.
O barbicacho de lonca
Traste rude bem trançado,
Tinha ao final, feito em flecos,
Um cacho dependurado.

Quanto custa bolicheiro?!
É de lebre o feitio?!
Se for, faça preço agora
Que a tropa já cruza o rio.
Este chapéu vai comigo,
Me serve bem a contento,
Proteção pras ressolanas
E pra sestear ao relento.

Desde então este sombrero
Me acompanha nas tropeadas,
Dos mormaços de janeiro
Às invernias e geadas.
Quando encosto a boiada
E descarrego o cargueiro
Me ajuda ascender o fogo
Pra cozer o carreteiro

Nos rodeios, domingueiras
Num gesto arriba pro céu
Dou buenas para os paisanos
Sacando o meu chapéu
E num olhar de soslaio
No rumo de uma percanta
Eu tiro pra o cumprimento
E intimo a moça pra dança

Quando chegar o meu dia
Te peço viejo chamigo:
No ocaso da existência,
Esteja junto comigo.
Debruçado sobre o peito,
Escudo que eu bendigo,
Será a pilcha mais sagrada
No meu derradeiro abrigo.