De tanto perder cavalos
horacio pena se vai a pé
quem sempre andou bem montado
hoje nao tem nenhum pangaré

nao tem zaino nem tordilho
mouro ou gateado, preto ou lazao
mas cada pingo que teve
segue de tiro no coração
marcou de redeas sovadas
o couro duro das suas maos
que vale tanta experiência
sem previdência nem compaixão?

ele que foi renomado
pelo talento de domador
e que escolhia o cavalo
embuçalando só a fina flor
entordilhou o cabelo
perdeu a força do seu caloe
e, hoje, remenda o orgulho
no pedregulho do corredor

lembra do baio bragado
que amanunciou ainda tordilho
e , um dia, morreu de velho
junto da sombra dum espinilho
e dum oveiro azulego que foi presente do seu padrinho
e um raio no descampado
deixou plantado pelo caminho!

Horácio pena caminha
sem ter destino, sem ter família
somente as suas lembranças
que ele reponta feito tropilha
há muito se perdeu seus fletes
gastou as botas, vendeu encilhas
e herdou o amargo destino
de peregrino dessas coxilhas

Recorda um potro lobuno
pata zebrada que era ventena
mas que ficou de confiança
pela paciência, mango e chilena
ainda enxerga um picaço
que bem tosado roubava a cena
e, num preparo prateado
era esperado pelas morenas

Horácio Pena carrega
tanto passado que se perdeu
o tempo lhe foi tomando
tudo do pouco que já foi seu
Em cada cavalo morto
Horácio aos poucos, também morreu
E, em seu silêncio de ausência
grita a querência que emudeceu!