Depois do Último Apito est une chanson en Portugais
Depois do último apito
a estação ficou só.
Digo melhor: Quase só,
remoendo suas lembranças
no seu baú de memórias.
Ficou também um servente
dando os últimos reparos.
E, sem que a estação percebesse,
tal e qual, o trem partiu...
De manso caiu a noite
e um silêncio profundo
invadiu a estação...
Parecendo compreender
o quanto nos faz sofrer
essa tal de solidão!
Um vento que vem do sul
brinca com papéis no chão...
O dia parece triste!
Quando o sol no fim da tarde
já ameaça partir,
um apito rotineiro
rasga silêncios no campo.
É o trem que vem chegando
para repetir o ritual;
os olhos da estação saltam
com um brilho sem igual.
Quem será que vem no trem?
Será que traz novidades?
Ele chega e já se vai,
lá se vai...porque amanhã chega.
E segue o mesmo silêncio
com jeito triste de só...
Comentam os mais antigos
que, sempre, todos anos,
desembarca por aqui
uma tal de primavera...
E o mais interessante
é que todos gostam dela.
Até as flores se ajeitam
quando sabem que ela vem,
soltam um aroma gostoso
que se espalha pelo ar...
As crianças jogam bola
e as velhas fazem tranças
além, das flores regar.
A primavera desembarca
e a estação solta um sorriso
que contagia o lugar.
O tempo passa depressa,
o trem chega e o trem vai.
A paisagem sempre é linda
quando existe paz interior,
os pássaros com seus cantos
em serenatas de amor,
na poesia cotidiana
inspiram a Dona Flor...
A estação ganha vida.
O servente ajeita o jardim;
enamorados casais passeiam
num amor que não tem fim!
A primavera ajeita as malas,
se despede da estação...
Embarca no trem das seis,
faz um aceno com a mão
e, quando tudo parece triste
de manso chega o verão.
Desembarca meio tímido
num fim de tarde espichado...
O sol insiste em ficar.
O verão,
com um ar de irreverência
dizem, que adora passear,
usa roupas coloridas
canta e gosta de tocar.
Parece que é um bom cantor,
enfim, movimenta a estação,
faz poemas, distribui flor,
nunca tem hora pra nada
e é muito madrugador...
O trem vem com mais freqüência
trazendo gente do povo
nessa época do ano.
Mas como o tempo não pára,
chega o trem na estação
e leva gente para o povo
seguindo junto o verão.
O trem chega, o verão vai...
O trem vai, o outono chega...
É nessa estação
que as folhas dançam
movidas por suaves notas
tocadas na voz do vento.
E enfeitam o chão
tingindo-o com a cor
do ouro-preto,
formando um belo tapete
para os duendes dançarem.
A estação do trem
perdeu o brilho...
O movimento caiu e,
nem o servente ficou.
Bateu no fundo a saudade
que resta das despedidas...
Mas sempre existe um reencontro
porque amar é preciso!
O tempo passa depressa...
O trem chega e o trem vai.
Calou-se o canto dos pássaros,
as árvores agora,
parecem desfilar nuas.
O outono vai sorrindo,
chega o inverno
com ar sério...
muitos livros na bagagem
e trajando o mesmo terno.
Passos lentos, olhos longe...
O trem vem muito lento,
devagar não se vai longe.
Chove muito na estação,
o dia não quer passar.
O vento assopra com força
uma linda canção de amor.
E eu,
“que preciso guardar linhas
para cuidar da saúde
do trem e os que vêm no trem...”
Não sei...não sei...
Se vou com o trem
ou se fico com o inverno na estação.
Se sigo a razão ou a voz do coração...
Não sei...Não sei...
Se colho ou volto a semear.
Se vou pro campo ou pro mar...
Não sei...Não sei...
Só sei,
que depois do último apito
a estação ficou só.
Digo melhor: - Quase só!