Translation of Cabras from Spanish to Portuguese
Esta é a última carta de amor que te escrevo
Ou a primeira, se preferir
E mais do que uma carta, é uma oração
Para te pedir que te lembres
Que nos conhecemos em cativeiro
Quando dormíamos no chão
Quando o frio entrava através da grade
E nunca abríamos a porta
Não é tua culpa querer tanto
Amar nunca será mau
Para que te lembres que nos conhecemos cansadas
Com as costas contraídas
E tu já tinhas aprendido a baixar as armas
Por vir de uma ternura infinita
E eu tinha a guerra incrustada
Por vir de uma ferida abismal
Não é tua culpa me querer tanto
Amar nunca será mau
Todas as coisas têm seu ritmo
E nós estávamos aceleradas
Quando me conheceste já tinha taquicardia
E quando te conheci
Tu já te sentias absolutamente sozinha
Não é nossa culpa nos querermos tanto
Amar nunca será mau
Eu te conheci cuidando de um pedaço de lua doente
Ao qual fizemos um funeral no nosso pátio
Com uma caixa de sapatos cheia de buganvílias
Cavamos com o encosto de uma cadeira
E percebemos o quão dura é a terra
Não é tua culpa querer tanto
Amar nunca será mau
Por isso te escrevo
Para te lembrar que começamos
Como duas cabras no meio do fogo
Que sempre fomos com pressa
Porque isso acontece quando estás disposta
A dar a tua vida pelo que chamas de casa
E porque nessa casa nosso corpo era tão fugaz
Que amanhã poderíamos já não estar
Não é nossa culpa nos querermos tanto
Amar nunca será mau
Para te lembrar que nos conhecemos ameaçadas de morte
E que a qualquer momento alguém poderia entrar
Quebrar o cadeado
Nos bater até moer
Mas tínhamos fé
Não é tua culpa querer tanto
Amar nunca será mau
Para te dizer que acreditar dói
Que confiar envelhece
Que te põe de joelhos
Que faz o teu corpo se colocar à beira
E se deixar cair
Não é tua culpa me querer tanto
Amar nunca será mau
Nunca tivemos um encontro
Nos conhecemos em fuga com o rosto coberto
E tu já sabes de mim que sou uma nuvem
E eu já sei de ti que és um salgueiro
Que nunca será um bom momento para nos deixarmos
Porque as coisas que se quebram
Nunca voltam a existir
Não é nossa culpa nos querermos tanto
Amar nunca será mau
Tu me ensinaste a não ser uma escapista
A observar como os gatos vivem sua dor
E que do amor uma não deve se arrepender
Para te dizer que peço por ti como peço por mim
E não me arrependo
Não é nossa culpa nos querermos tanto
Te amar nunca será mau
Vivo minha dor como os gatos
Vivo esta doença de não te ver dormir e a entendo
Para te dizer que estou preparando meu próprio funeral
Ou o funeral desta coisa quebrada
Que se estatelou na estrada
Não é nossa culpa nos querermos tanto
Nos amarmos nunca será mau
Enterro outra caixa de sapatos
Mesmo que me quebre os braços a cavar
Porque eu não sei sair do amor inteira
Mas quebrada
Termino como serpente, o que comecei como cabra