Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico como saudosa lembrança estas memórias póstumas

Uma vez me perguntaram se eu preferia saber quando eu vou morrer ou a causa da minha morte?

Talvez tudo teria sido diferente se eu tivesse escolhido outra resposta...

Era madrugada de terça pra quarta
Pela quinta vez eu te mandei mensagem
Senti um aperto no coração
Eu sempre confio na intuição
Junto com o dinheiro deixei uma carta
Pra caso eu não volte dessa viagem
Na hora de ler sei que cê vai chorar
Talvez até queira também me matar
Desculpa por tudo que cê não sabia
No amor e na guerra se omitem verdades
No fundo essa vida ainda me feria
Toda liberdade é pautada por grades
Escolhas erradas, ciclo vicioso
Sensação amarga que a hora chegou
Toda essa tensão me faz ocioso
E no mesmo minuto o radinho tocou

Esquece agora da ordem antiga
Recolhe o pacote e leva pra fronteira
A cota de coca deixa com soldado
Que passa pra frente já na sexta feira
Quando tiver feito, confere e me liga
Queima o celular em uma fogueira
E pra ser mais seguro não cola armado
Confia no plano que a troca é certeira
Fiz uma oração, segui o caminho
Não tinha reforço e eu tava sozinho
Colei pro destino e a fita era dada
Sem chance de fuga, cai na emboscada
Eu pulei do carro com a mão na cabeça
O matuto mandou eu ficar de joelho
Antes de atirar não quero que ele esqueça
E sinta remorso ao se olhar no espelho