Eu não aguento mais ver massacre orquestrado por policiais
(por policiais)
Há um tempo atrás, numa época que os filhos respeitavam os pais
(Respeitavam os pais)

E o que me dá medo é não um amanhã pra eu chamar de meu
Te conto um segredo: “ A maldade desse mundo me ensinou a amar os meus”.

Ah, pai! Se tudo fosse só trocar uma ideia
Ah, se você pudesse escutar essa ideia
Vários manos que perderam a vida por não escutar uma ideia
Eu não aguento mais violência, bomba, tiro e guerra

Escuta essa ideia

E quando morre um dos nosso, ninguém liga
Ninguém se ver um corpo de preto esticado no chão
Ninguém liga

Ninguém liga pra ambulância
Cês só ligam pra polícia
E o problema é que a polícia não liga pra nós

Alguém por favor corre pra avisar pra Dona Ana
Oh, Dona Ana! Seu filho morreu nas mãos dos cana

Mas vejam só
Chegou outro carro de reportagem
Nem parou pra ver o corpo
Disse que era bandidagem

Eles são cínicos, ou melhor, cômicos
Lógico que tiroteio dentro da favela vai acertar alguém

E na maioria das vezes acerta gente de bem
Escrevi essa pra falar que meu povo é gente também

Nós construímos todos os prédios e fomos barrados na porta de todos
Esse é o Brasil, um país de poucos

E ai de mim se eu calar minha boca, irmãos
Porém, eu sou negro, eu tenho que honrar minha causa

Eu amo a minha raça
Eu luto pela cor
Pra nunca mais ter que ver a minha cor de luto

O chicote virou cassetete
Quilombo aqui virou favela
Capitão do mato virou polícia
Meu povo virou estatística

Pobre Dona Ana
Talvez a história dela fosse diferente se a Dona Ana não fosse pobre
Se a Dona Ana não fosse preta
Se a Dona Ana não fosse da favela
Se a Dona Ana não fosse pobre
Se a Dona Ana não fosse preta