Noite negra

A MORTE DE UM CAVALO, NOS TOCA FUNDO NA ALMA
BEM ONDE O CAMPO, FAZ FRONTEIRA AO CORAÇÃO
QUE ATÉ O SILÊNCIO, TÃO COMUM DAS RECOLHIDAS
FICA MAIOR, DO QUE A GRANDEZA DE UM GALPÃO...


A ALMA PAMPA QUE HÁ NA ENCILHA DE UM PINGO
APERTA A CINCHA, NUMA ESPERA MAIS INGRATA
QUE HOJE SÓ BATE UM CORAÇÃO, JUNTO AOS ARREIOS
QUE É O DA PEITEIRA, NUM FLORÃO, FEITO DE PRATA.


HÁ UM LAMENTO, QUANDO UM CAVALO ENVELHECE
QUE O ADEUS ENFRENA UM SENTIMENTO DE APEGO
E ESTE ESCURO MAGIAR QUE É HÁ NA MORTE
ALUMBRA A TERRA, DE QUERÊNCIA E DE SOSSEGO.


OLHANDO O ZAINO, AINDA PASTANDO PELA VÁRZEA
SEI QUE A RAZÃO, FEZ SEU DESTINO SER INCERTO...
NA ESTRANHA SINA, DE ENTENDER A DOR DO CAMPO
E TER SAUDADES, MESMO ESTANDO, ASSIM TÃO PERTO.

TALVEZ AS BRUXAS NEM LHE ENREDEM COLA E CRINA
E NEM DE TEMPO DE INVERNAR OUTRA INVESTIDA...
QUEM FOI DO CAMPO, DE PECHAR BOI PELA RÉDEA
VAI SÓ PASTAR, BEM MAIS TRANQUILO, UM FIM DE VIDA.

POR LUAS NOVAS, NÃO VAI MAIS PARAR NA FORMA
NEM VAI CINCHAR, BOTANDO A FORÇA EM COMPROMISSO
PORQUE O TEMPO, QUE É SENHOR DAS INVERNADAS
ENTENDE A VIDA, QUE SE VAI, PERDENDO O VIÇO...

ANTES DO INVERNO, SE APARTOU DE OUTROS MANSOS
PRA O CAMPO LARGO, ONDE O PASTO TEM SERENO
PRA ESPERAR A NOITE NEGRA, LHE ENCILHAR
E ASSIM RUMAR, PRA O CÉU REAL, DOS PINGOS BUENOS