Colecionador de Instantes
(Péricles Garcia / Paulo Valle)

Se por acaso alguém perguntar sobre felicidade
Direi sem alarde: É coisa pra quem tem coragem!
De rir dos seus medos, dos próprios defeitos
E de fazer seresta sobre anseios desfeitos

Mas se o assunto em questão for falar da tristeza
Pedirei a fineza, que consulte outro sujeito
Em matéria de choro, não garanto o decoro
Se não for um chorinho, acho até desaforo

A ordem das coisas é um ponto de vista
O sorriso do banguela é o saldo do dentista
A sorte do amor é jogo pra quem não teme
Juntar sol com lua, Noeno com Noemi

Entre regar a vida e molhar a grama
Quanta filosofia num copo de Brahma
Já que garganta seca, ninguém merece
Água que vem de Salinas, passarinho agradece

Refrão:
Quem já viu vender afeto em supermercado?
Caçar estima na farmácia, isso eu desconheço
A vida é feita dos encontros que ela tem mandado
O apreço é mesmo coisa que não se põe preço

É bom que fique claro as regras dessa pelada
Que a jogada começa quando a partida acaba
As companhias e a prosa são nossos artilheiros
No gol o frango é assado, o drible barangueiro

Se o tempo insiste que não vai dar um tempo
Invento o meu ritmo nos acordes do violão
Lá onde o vento revela tons de cravo e canela
Que perfuma os encantos de uma Vila Bela


Dos bens que se pode ter, o mais importante
E maior é o bem-querer, isso é fascinante
Ter ao lado família e amigos, é o desejo
E se não for demais, um pedacinho de queijo

É preciso ir além pra distinguir o bem do mal
Manter um olho no padre, o outro no missal
Entender que tudo é agora como era antes
Que rico mesmo é quem coleciona instantes