Trata-se do movimento central, o mais longo e complexo de toda obra. Cada afirmação desse documento da fé cristã recebe roupagem específica e as ideias musicais proliferam abundantemente num encadeamento harmônico imprevisível. São tantos os motivos trabalhados sempre de forma polifônica que, para o intérprete, o maior desafio representa a criação e a manutenção da unidade da obra. Villa-Lobos não chega a desenvolver os muitos motivos musicais presentes no Credo, entretecidos por ricos modelos melódicos e complexidade harmônica que fazem com que este movimento se assemelhe a uma colcha de retalhos ou um patchwork. Alternam-se vários andamentos, anunciados logo no início por um Largo de 2 compassos apenas, seguido pelo Allegro. O compasso dominante é o quaternário e o texto segue fluente, quase sem repetições, apenas com a exposição em cada uma das vozes. Encontramos momentos sublimes, como no trecho et incarnatus est ex Maria Virgine, que lembra uma canção de ninar; o Crucifixus, outro momento bastante intimista com fórmula ternária lenta, contém uma das poucas repetições – a da palavra passus, com duas notas repetidas como uma martelada, e compostas melodicamente em forma de cruz, as 3 vozes formando um trítono que acaba se resolvendo surpreendentemente num acorde maior. Em et sepultus est pode-se reconhecer o lamento de uma mãe, melodia que tem sua origem nos cantos populares da religiosidade de origem negra do Brasil. O trecho Qui cum Patre et Filio traz outra surpresa: um Allegretto muito leve remete à imagem das três pessoas da Trindade em perfeita comunhão e alegria na construção de uma comunidade universal santa (...qui cum Patre et Filio...et unam sanctam catholicam...). Interessante notar que Villa-Lobos, na sua composição, omite a última frase da confissão de fé: “et vitam venturi saeculi”. O Credo tem como tonalidade inicial o Dó Maior, caminha por infindáveis cromatismos, visita todos seus tons vizinhos e não tão vizinhos, e finalmente retorna ao Dó Maior no Amen, culminando numa coda vigorosa na qual os Contraltos realizam virtuoso contraponto em escala descendente, e que termina num dó em uníssono.

CREDO
This is the central movement, the longest and most complex of the whole work. Each statement of this document of the Christian faith has a specific character, and musical ideas flourish abundantly in an unpredictable harmonic progression. So many motifs in polyphonic form are developed, that the greatest challenge for the interpreter is to create and maintain unity throughout the piece. Villa-Lobos does not develop the many musical motifs presented in the Creed, which are interwoven by rich melodic models and harmonic complexity that make this movement resemble a patchwork quilt. Various tempos alternate throughout the piece, which is announced right at the beginning by a two-bar Largo followed by an Allegro section. The dominant meter is quadruple and the text flows with few repetitions, appearing only once in each voice. We find sublime moments, like the et incarnatus est ex Maria Virgine section, which reminds us of a lullaby and the Crucifixus, another very intimate moment with slow ternary meter. It contains one of the few repetitions – of the word passus, with two repeated notes, like the blow of a hammer, and melodically composed in the shape of a cross, as the 3 voices form a tritone that resolves surprisingly into a major chord. At the et sepultus est we recognize the lament of a mother in a melody which has its origins in the religious folk songs of African-Brazilian traditions. The Qui cum Patre et Filio brings us yet another surprise: a very light Allegretto refers to the image of the Holy Trinity in perfect communion and the joy in building a universal holy community (…qui cum Patre et Filio… et unam sanctam catholicam…). It is interesting to note that Villa-Lobos omits the last phrase of the confessions of faith in his composition: “et vitam venture saeculi”.
The Creed has C Major as its initial key, wanders through endless chromaticisms, visits all of its neighboring and distant keys, and finally returns to C Major in the Amen, culminating in a vigorous coda where the altos perform virtuoso counterpoint in a descending scale, and ends in a unison C chord.