O poço é um lugar inóspito
Habitado por sentimentos que tem atestado de óbito,
Mas que insistem em ressurgir
Que insistem em me fazer cair.

O poço é um lugar inabitável
E não quero voltar para lá.
Me parece um caminho afável
Que no fim me prende, já.

Quando estou no fundo do poço
E ela vem me encontrar.
Maldito cenário que do fundo oco
Vem me destroçar.

Isso porque é no inabalável fundo do poço
Que corro sem parar,
Porque é lá que enterrei as memórias
Que enterrei minhas derrotas.
Minhas percas, meus lamentos, meus cacos
Em bilhetes, em palavras, em gestos.
Em cheiros, em perfumes, em presentes.
Eu te enterrei lá no fundo do poço.

E vire mexe eu volto lá, só para ter certeza
Que ainda me lembro de esquecer.
Que apesar da minha esperteza,
Nem na sutileza eu consigo me perder.

E lá no fundo eu te tranco a sete chaves
Habitando no inóspito lugar inabitável e inabalável.
Até me perco nas profundezas do fundo do poço.
Que são tantos os desgostos.
Acumulados, largados, afundados, asfixiados e intactos.

No fim, o poço parece ser um bom lugar para deixar.
Já que tudo que quero esquecer, de lá vem brotar.
Deveria ter deixado minhas provas, datas, informações relevantes, inebriantes, momentos estonteantes, triviantes e entediantes
Mas só deixei o que era de fato importante.