A partir de quando
Eu não sei ao certo
Somos tão felizes
Somos tão completos
Onde eu estava
Continuo puto e incorreto

A partir de quando
Nos tornamos tão fortes
Não temos mais barreiras
Estamos no controle
E eu que só trabalho
Mal tenho como me sustentar

A partir de quando
É tudo tão bonito
Evita-se o esquisito
Que ofusca a vigência
E eu sem competência
Perdido no fluxo da regência

A partir de quando
Matamos os heróis
Vestimos suas capas
Substituídos por nós
E eu que tenho medo
Não sei como me defender

Pois eu, eu.
Continuo sangrando
Sorrindo
Chorando
Amando e odiando
Exatamente igual

A partir de quando
Ficamos tão iguais
Seguimos a tendências
Em moldes naturais
E eu sem natureza
Parado dentro da minha cabeça

A partir de quando
Em cantos escondidos
Celebram protegidos
O culto a si mesmos
E eu sem importância
Definho em minha pura arrogância

A partir de quando
Em fábulas astrais
Brilhamos como estrelas
Seres celestiais
E eu que vim do pó
Tornarei ao pó sem nada mais

A partir de quando

Alguém nos nomeou
Senhores do destino
Fiel transformador
E eu inconformado
Procurando um culpado pela dor

Pois eu, eu.
Continuo sangrando
Sorrindo
Chorando
Amando e odiando
Exatamente igual

A partir de quando
Passou a ter valor
O aplauso do vencido
Na glória do vencedor
E eu de pé no fogo
Desconfiado da regra do jogo

A partir de quando
No campo da razão
Opinam fervorosos
Todo assunto e questão
E eu tão sem assunto
Sem solução pra minha condição

A partir de quando
O ponto na ferida
Se dá pela acolhida
Da voz da maioria
E eu cicatrizado
Ferido e premiado
Pelos votos não contados

A partir de quando
A fórmula da paz
Se faz pelo silêncio de quem exausto cai
E eu já tão caído
Grito um derradeiro gemido

Pois eu, eu.
Continuo sangrando
Sorrindo
Chorando
Amando e odiando
Exatamente igual

A partir de quando
Eu não sei ao certo
Se deve concordância
Em todos os aspectos
E eu tão inseguro
Invalidando os dois lados do muro

A partir de quando
Isso Darwin disse cedo
Não se trata de força

Adaptação é o segredo
E eu em confusão
Inadaptável na adaptação

A partir de quando
Eu não sei ao certo
O tamanho do afeto
Se prova sob açoite
E eu tão reagente
Me sinto indiferente
Na solitária noite

A partir de quando
Se omite oferecer
As chaves que abrem portas
Que levam ao querer
Poesias são mortas
Se não se pode ouvir
Tocar ou ver

Pois eu, eu.
Continuo sangrando
Sorrindo
Chorando
Amando e odiando
Exatamente igual

A partir de quando
Podemos contra tudo
Sabemos o passado
Projetamos futuro
E eu só tenho hoje
E dúvidas se vou sobreviver

A partir de quando
Ter é a medida
Ser de pouco importa
São padrões da vida
E eu que nada tenho
Muito menos sou
Então o que sou

A partir de quando
Achamos a verdade
O foco da clareza
E credibilidade
E eu só tenho visto
Que nada foi bom
Pelo tempo previsto

A partir de quando
Se sabe tão a fundo
O preço do acesso
De uma vida com sentido
E eu aqui pensando
Me perguntando
A partir de quando.