Continuo andando sem ter onde chegar

Uma sede imensa, com a língua a rachar

Será que encontro um pedaço de osso pra mim

Sinto um cheiro azedo, mas como algo enfim


Milhares, milhares de passos já dei

Batalhas e lutas já venci e perdi

No fim só procuramos um abrigo a ficar

Mas hoje a chuva, sei que vai me molhar



Sonhos perdidos, lar despedaçado

Alma cansada, coração pesado

Às vezes eu penso que sou invisível

Todos me passam com um olhar desprezível


Meu colchão gran fino, é um fino papel

Meu teto é enorme e trabalhado, pois imenso é o céu

Variado é o banquete, entre o vinho e o mel

Das latas de uma casa, restaurante ou hotel



Oh Deus onde estás, pesado é meu fardo

Meu caminho é imundo, ando esfarrapado

Com a dor que existe será que escolho sofrer?

As vezes fecho meus olhos esperando morrer



Mas de chão em chão continuo a existir

Com brilho no olhar, dias bons, dias ruins

Não entendo a engrenagem, só sei que é assim

Os homens me chutam, um bebê sorri para mim



Mas na escuridão há um raio de luz

Mesmo na escravidão, carregando cruz

As vezes uma beleza imensa me contagia

Rio feito um bobo, uma fugaz alegria



E o vento no céu carregando nossas almas

A traça do tempo faminta rói nossos dias

Não temo se amanhã não terei o que comer

Temo pelo homem que sofre, mesmo havendo tudo ter



Mas eu sei que um dia encontro meu lar

Nunca mais faminto e sujo haverei de ficar

Sentirei meu coração ansioso em chegar

Ao lar que alguém me espera, espera pra me amar.