Aí vem
O entrudo.

E vem surdo.
Cego.

Aí vem
O entrudo

E vem surdo.
Cego.

Com a máscara e o chocalho,
Desvario,
É para dar com tudo.

Aqui em Podence,
O nosso culto da fertilidade,
O diabo, os caretos,
É fetiche, na verdade

/

E agora, fanarico, vais chocalhar aquela rapariga.
Tu aí ao fundo, sim.. Como é que achas que ela é?
Tão diferente de nós e tão parecida, ao mesmo tempo.
O que achas que escondem aquelas roupas escuras? Aquela blusa arroxeada? As pulseiras, os colares?
Como é que achas que ela é na intimidade?
Quando está sozinha em casa e parece que a casa está a engoli-la.
Ou quando convida alguém para jantar e está desprotegida.
Achas que ela abre o primeiro botão da camisa, ou isso fica só para os homes .

Eu acho que ela fugia de nós, fanarico. Nós, nós que não fazemos mal a ninguém, só fazemos bem...

Achas que ela bebe whisky? E se bebe, quantas pedras de gelo pede?
Ou não bebe nada, e gosta de permanecer na sombra. Achas que ela é tímida porque quer ficar nessa posição?

No que achas que ela pensa quando está vulnerável? Pensa em alguma coisa específica? Será que pensa nos tempos em que era criança? Quando corria, sentia o vento a assobiar-lhe entre as coxas, fazia recados, visitava pessoas, soltava as tranças, puxava as saias à irmã.

Eu acho que ela ainda não entendeu que não há diferenças aqui. Achas que cruza as pernas?

Eu acho que ela está com medo de nós, fanarico. Medo desta parafernália toda.

Vamos chamá-la? Eu não danço sozinho, fanarico....

Vai lá chocalha-la. Vai. Tens que chocalhar essa rapariga, fanarico.
Vai Tens que chocalhar essa rapariga, fanarico!
Vai.