Mudaram minhas lentes com o tempo
E a ótica ficou tão embaçada.
Mudaram os meus sonhos, meus dilemas
E a vista foi ficando empoeirada...

Os pés cresceram mais que os passos firmes.
As mãos foram ficando calejadas.
Mudaram as razões de estrada e tempo
E alma foi ficando empoeirada...

E assim empoeirei as engrenagens,
Pois só da força bruta ainda abuso.
Não vejo, nem escuto se me chamam
E o amor enferrujou por pouco uso.

No entanto hoje mais cedo meu espelho
Quebrou ao perceber minha mirada...
Nos cacos eu achei meu sonho moço
E a poeira foi ficando empoeirada.

Meu filho viu as Cruzes de Nazário,
Com pena das estátuas se abaixou
Tentando com sua alma erguer o peso
E a vida lentamente despertou.

Por hoje não me cansam mais os calos.
Pés firmes darão passos de esperança.
Se a vida perguntar: - Por que agora?
Renasço na pureza das crianças!

E assim empoeirei as engrenagens,
Pois só da força bruta ainda abuso.
Não vejo, nem escuto se me chamam
E o amor enferrujou por pouco uso.

No entanto hoje mais cedo meu espelho
Quebrou ao perceber minha mirada...
Nos cacos eu achei meu sonho moço
E a poeira foi ficando empoeirada.

Por hoje não me cansam mais os calos.
Os pés verão meus passos de esperança.