Falar é fácil pra quem não tem saída,

Ou é o contrário que devia valer?

Escolhi bem o que fiz da minha vida,

Mas as escolhas que tomei já me parecem

Óbvias demais. Desacreditei demais

Ou acreditei a mais? Não sei.


Uma mosca morta dentro do meu quarto

E ela vem voando pra cima de mim

Enquanto toco um refrão que se repete

E me pergunto se devia ser assim.

Óbvio demais, não escrevo há um mês,

Será que eu não rimo mais? Não sei.


Sei que, mesmo assim, ainda não quero morrer

E se eu morresse, tornaria a viver

Pra quê? Tem algo que eu gostaria de dizer

Pra mim, ainda não acabou.

Ainda não acabou.


A mosca morta dentro do meu quarto

Parece estar muito mais viva que eu.

Olho no espelho, acho que perdi o tato.

Dispo das roupas e machuco os olhos meus

Com costelas demais, olheiras demais…

Me vejo tremendo de mais… Não sei.


Deito na cama horrorizado com o fato

De que essa tosse já vai fazer mais de mês;

Percebo que meu corpo ainda é um ato

E que eu já não sei mais o que eu vou fazer.

São coisas demais, eu não tenho tempo…

Será que eu não rimo mais? Eu sei.


Então eu corro rápido, ultrapasso o meu passo pra tentar me superar;

E então eu me desgasto e, no passo do meu passo, caio para descansar.

Eu não respeito meu passo, é pequeno, é um percalço, eu não paro de chorar.

Por que ainda não acabou?


Invado outro espaço que não devia entrar;

Me arranco do meu passo pra poder me superar

Mas a pressa é inimiga do cuidado, e será

Que eu vivo por acaso sem querer?

Minha cabeça arde, não sei como começar;

Me arranco do meu passo pra poder me aceitar

Mas meu corpo é inimigo de mim mesmo e será

Que eu vivo por acaso sem querer parar?

Eu vivo por acaso sem querer.


Sei que, mesmo assim, ainda não quero morrer

E se eu morresse, tornaria a viver

Pra quê? Tem algo que eu gostaria de dizer

Pra mim, ainda não acabou.