2. Dores de Alguém invisível

Aprendi desde cedo a posicionar minha raiva
Pra não tá gritando a toa
Depois de uma reza minha mãe Tamain disse pra mim
Meu filho voa
Não é só por mim meus ancestrais então segurando a caneta
Por isso pra botar meu povo no topo nunca vai me faltar letra
Vocês nunca foram por mim
Por isso virei do avesso
E pra comprar o meu silêncio
Já tentaram aumentar o preço
Eu sei que não gostam de mim
Mas é que às vezes eu esqueço
Vão ter que respeitar a historia
De quem tava aqui no começo
Nós tem o dom de sorrir, no meio do tiroteio
Então você não me abala, que se foda o teu preconceito
O índio ensinou o que é resistir
Na nossa língua não existe medo
Tamo sempre pronto pra guerra
Por nossos direitos nós bota o peito
Não escrevi essa sozinho
A história machuca o peito
Então por todos que se foram
Vou fazer essa porra direito
Todos que roubaram de mim
Agora não terão sossego
Quero paz em cada aldeia
E dispenso o teu respeito
Botou cartolina e disse que é fofinho
Mas na mata se treme de medo
Te pego com a onça pintada
Que passeia no meu terreiro
A tua lei não funciona aqui
Fica em pé quem atira primeiro
Vocês achando que é de flecha
De tanto rir eu já fico vermelho

Enjoado demais pra sorrir
De mim só esperam conceito
Mas se eu falar de dinheiro
Vão dizer que eu não sou verdadeiro
Canto nossa dor pra se fazer ouvir
E quero nosso bolso cheio
Vários animais na carteira
Índio de férias num cruzeiro ...x2

Dignidade pra todos parentes
Pra não precisar se humilhar na Xuxa
Exploram a nossa imagem
A mídia é filha da puta
Quem quer faz o certo então chega e ajuda
Empurra pra frente a nossa luta
Todo dia alguém ta morrendo
Por causa de tanta disputa
Liderança silenciada
E o Estado fingindo ser cego
Pra doenças que vocês trouxeram
Aqui ta faltando remédio
Desmataram metade da área
Pra construir centenas de prédio
Postaram story da janela
Hastag natureza bela
Aldeias exterminadas
E vários povos dizimados
Se engana se você achou
Que era coisa do passado
Jagunço a noite no mato
Só da pra escutar os disparos
De quem é a culpa Brasil
De todos corpos empilhados
Se preparar e acende o fogo
Que hoje tem retomada
Pede a bença pra Tupã
Se ele quiser não da nada
O grafismo que enfeita meu corpo
Me deixa pronto pra batalha
Na fumaça a gente pede força
A nossa reza nunca falha
Sou da terra igual esse ouro
Nascido dentro da mata
Entenda que sou valioso
E pede licença pra entrar na minha casa
Enjoado demais pra sorrir
De mim só esperam conceito
Mas se eu falar de dinheiro
Vão dizer que eu não sou verdadeiro
Canto nossa dor pra se fazer ouvir
E quero nosso bolso cheio
Vários animais na carteira
Índio de férias num cruzeiro ... x2

Letra: Kleiton Lacerda
Album: A Continuação do Que Sempre Existiu
Nome da faixa: Dores de Alguém Invisível
N° da faixa: 02