Me emponcho de canto, irmão,
Porque o cantar é sagrado,
Quando o taura é bem formado
De alma e de coração...
É um altar este rincão
De prece, amor e retovo
Pois sou cria desse povo
Cantando sua canção.

O índio, o gringo, o mestiço,
Empunhando a mesma lança
Com a doida perseverança
De quem não é submisso,
Plantaram no pago o viço
Desta gente sem refugo
Que jamais caiu no jugo
De mau olhado ou feitiço.

Me orgulho do meu ""rebanho"",
Das coisas do meu estado:
Fio de bigode empenhado,
Adaga e cheiro de estanho.
Eu trago um jeito antanho
E o linguajar retovado,
Eternizando o passado
Que ninguém mede o tamanho.

Parceiro dos que tropearam
A nossa história até aqui,
Os meus sonhos de guri,
Da tropa não se extraviaram.
E agora, que se costearam,
Neste final de existência,
Sabem que minha Querência
Nem por um dia esqueci.

Por isso sobra altivez
Ao meu canto abagualado
– Embora mal falquejado,
Não se rende à insensatez...
Canto de guerra, talvez,
De um Sepé bradando forte
Que nunca dobrou seu porte,
Nem perdeu sua lucidez.