QUANDO A MORADA É O GALPÃO
(Chamarra)

Quem aprendeu nas estradas
Levando tropas alheias,
Carrega dentro das veias
Essências de madrugadas,
A luz da noite estrelada...
E a silhueta dos campos,
Que são pintados de branco
Quando amanhecem com geada.

Quem teve a vida de peão
Conhece, onde a vista alcança,
Mangueira, brete, balança
E gado gordo do patrão...
Sabe ajeitar redomão
Para nos fins de semana,
Tentear a sorte cigana
Nos bolichos do rincão.

QUANDO O GALPÃO É MORADA
É MAIS FÁCIL SER FELIZ...
QUEM NELE PLANTOU RAIZ
OBEDECENDO E MAIS NADA.
É SOMBRA DA SOLIDÃO
CUMPRINDO O RITUAL GAUDÉRIO,
O CORPO VAI PRA O CEMITÉRIO
E A ALMA FICA NO GALPÃO!

Quem teve o ensinamento
Na dura escola da vida,
Tem a lição repetida
Nos contra cantos do vento,
Um lombilho pra o relento
E toda a mobília interna,
É um banco de três pernas
E o velho catre de tentos.

Quem teve as pilchas guardadas
Numa mala de garupa...
Não pensa nem se preocupa
Em usar roupas remendadas,
As de passeio, ajeitadas
Sempre com muito capricho,
Pra mode algum cambicho
Ou pra última morada!