Sanga de água cristalina
Bordada por lambaris
Onde em tardes gris
Com olhos claros de sol
Enredei linha de anzol
Num galho de sarandi
Em meu tempo de guri
Rabiscado de arrebol.

A água vai serpenteando
O verde-musgo da estância
Carregando minhas ânsias
Entre a foz e a vertente
Num trajeto eloquente
Quando “no” céu estendido
Pinta um arco-íris “tingido”
Com as cores da alma da gente.

A NATUREZA SE AMANSA
E A SANGA RETORNA AO LEITO
ENQUANTO AQUI NO MEU PEITO
BATE UM CORAÇÃO VAZIO
QUE O TEMPO O FEZ ARREDIO
POIS VALE O QUE A VIDA MANDA:
QUEM “VÊ COM” OLHOS DE SANGA
NASCEU COM ALMA DE RIO.
.
Arqueia o lombo na enchente
Em tempos de aguaceiros
No varzedo dos potreiros
Engole campo e banhado
Sem respeitar alambrado
Reponta sonhos por diante
Marcando trama e palanque
Parece um potro aporreado.

Vai-se embora o tempo-feio
E a corredeira silencia
Refazendo a melodia
Que na barranca se abranda
Talvez aquele que anda
Com a vida afogada em mágoa
Precise beber a água
Na calmaria da sanga.