Percebe que é só o vazio sem ter nada pra falar
Ratos invadem o canil. Leis são feitas pra quebrar

Tipo quem não jantou ontem, fome de viver os fatos
Fico sem chão quando somem, não tem significado

Hoje me escondo, espirais que me rodeiam
Querem tirar minha rotina, olham mas não assemelham

Nem se a verdade mostrasse, nem se a vontade mudasse
Vão me ver aí, preso
andando mesmo sem as grades

Chave não tenho, lembranças se vão com o vento
Se não tivesse gravado, eu estaria vivendo

Não seria necessário, despedidas sempre doem
Primeiro vem palavras boas, depois a raiva destrói

Rabiscos marcam papéis, cicatrizes não se apagam
As coisas não voltam, então, melhor impedir que façam

Me pedem ajuda, lutas que não vou travar
O dia vem, mentiras vão, os anjos guardam o meu lugar


Sempre que me perco no vazio
Eu procuro em mim respostas

Procuro a saída do caminho
Pra que eu possa ir embora

Queria compor, mas tô tão complexo
Vivendo um plexo de complexos

Verso o meu léxico que me livra do Lexotan
Então me empresta o cano

Tô com a fé sacando e com ele escrevo
A obra que diz que minha vida inda vale se eu tô me matando

Um café instantâneo, um verso cutâneo
Eu seguro o crânio e... “Ser ou não ser”

Se eu não tô escutando quem vai dizer
O que eu devo ou não devo fazer

Nem vem com esse papo blasé
Todo vice é quase e o quase não passa de fase

Vivo um impasse: entre viver pelo sonho
Ou morrer pra que de um sonho passe

Ouvindo o Tassy e o Masego
Chego sempre mais cedo do que bispo Macedo

Ao placebo de exorcizar demônios pela escrita
Eu não canto rap eu canto a vida

É uma oração curar pra feridas
Pode até falar que isso é terapia

Tipo ter a pia pra lavar o rosto nas águas sagradas...