Sonhos não sei sonhar.
Versos não vou rimar.
Romances não ouso ter.
Não é aqui o meu lugar.

Não abro mais os olhos.
Não quero mais olhar.
Só chorar me consola.
Pra que quero sonhar?

Sem frutos no outono,
cinza é a primavera.
Vou dar corda ao sono,
pra alma virar tapera.

Botei tranca por dentro,
pra ninguém ver de fora,
a dor e o desalento,
que não se vão embora.

Não adianta procurar
a saída desta casa.
Não se arrisca a voar
uma alma já sem asas.

Me tranquei por dentro,
não venha me salvar.
Já não tenho mais ganas
pra me reencontrar.

Meu coração, à deriva,
já não ruma para o porto.
O corpo não sobrevive
num espírito já morto.

Assim, navego meu dia,
não diviso a bonança.
Não me resta alegria,
nem sequer a esperança.

A depressão é uma doença terrível.