Costureira

A fita media o pano pelo cinza do tergal
Rasgava então o carnal na dimensão do riscado
Já separados os botões de um verde campeiro
A linha e agulha pra dirigir o plissado

Aos poucos o desenho se fazia um matiz
As retinas velhas, turvas a enganar a visão
E o traçado se perdia “naquilo” que se fazia
Aumentando a sombra no pavio do lampião

A vista forçava o lume refletindo a tesoura
O fio e a ferrugem moura desenhavam a beira
Afilando os traços, traços da bombacha
Pelas mãos da costureira

Mas a arte supera a ausência do sentido
O tato, o improviso e o amor no sentimento
Arrematava o pedido na costura quem não racha
Tia Lurdes fez sua última bombacha

Hoje o mate embaça a grossa lente imposta
Recosta as lembranças do seu rude atelier
O fogão Geral aquece o peito e os anseios
O sorriso é o mesmo nos olhos de quem não vê.