Primeiro meu pai lavoureiro
Fez lança do cabo da enxada
E sumiu com uma escolta de guapos
No breu de uma distante madrugada

Buscando seu rastro nos campos
Meus dois irmãos adolescentes
Campeando horizontes de paz
Extraviaram as vidas inocentes

Nenhum deles então regressou
Lavei tantos mates na espera
E a solidão se adonou do meu rancho
No passar de muitas primaveras

Rezei pra Nossa Senhora
Fiz preces por suas vidas
Na ânsia contei longas horas
Juntei noites e noites mal dormidas

A espera seguiu meus encalços
Chegou a vez do homem amado
Que trocou o calor dos meus braços
Pelo ideal de um lenço colorado

Esperei em vão, não cansei
Fiz serões com a lua companheira
Esperançosas manhãs me encontraram
Debruçada ansiosa na porteira

No mesmo rumo sem volta
Se foram meus filhos por fim
Me deixando a velar a saudade
Na tapera que hoje há em mim