CANTO A UM MENDIGO TORTO

Pela avenida da cidade,
lembro bem daquela figura.
Quase um quasímodo andante,
em andejar torto, errante.

Quem é este homem tisnado,
com olhar sereno de açude?
Por que anda sempre curvado?
Por que a vida lhe é rude?

Quem é este homem sofrido
errando na senda sem prumo?
Que trilho seguem seus passos?
Pra onde o leva esse rumo?

Eu queria poder entender
cada uma dessas questões.
Quem sabe, talvez, aprender,
tirando delas algumas lições.

O que seu olhar espelha?
E, o seu corpo retorcido?
Por que há brilhos de estrelas
em seu mirar aturdido?

Por que será que o Pai do céu
fez recurvado seu corpo?
Por que ter que andar ao léu,
andrajoso e sempre torto?

Quantos de nós andam eretos
mas têm sinuosos corações?
Que dizem serem corretos,
mas não o mostram nas ações.

Esta canção é um preito ao Manuelzinho, um andarilho, que andava pelas ruas de Taquara, recurvado e ridicularizado pelos transeuntes.