Se um dia essa preta me desse bola,
Faria sambas tão bons quanto Cartola
Se de mim um dia ela tivesse pena,
porque não ganhei na loto e nem na sena
Se ao meu telefonema dissesse um alô,
Eu ficaria radiante feit’um beija- flor
Mas essa nega não me dá nenhuma atenção,
Ignora sem saber a minha intenção
Dialogar ao pé do ouvido do seu coração
Ser um passista na avenida da agremiação
Desfilar simplórios versos para evolução.
E propagar ao mundo inteiro a nossa paixão
Mas isso tudo eu já sei, não passa de ilusão
Pierrô apaixonado não quer solidão
Malandro, não sofre por antecipação
Busca sempre a conquista mesmo que seja em vão

Quero juntar a minha literatura com a tua
Quero ajustar o meu relógio ao teu
Teus olhos me levam às alturas
Queria que eles fossem meus

Com esse sorriso não há
Nada que faça me cansar
A sua beleza me deixa em transe
Menina, me dê uma chance

Sou cobra criada e tenho muito veneno
Mas perto dessa moça eu fico pequeno
Sou neto da madrugada, afilhado do sereno
Porém isso não me faz ganhar terreno
Pois ela é difícil, ela é ensaboada
Ninguém a segura, não consegue ser marcada
Vagabundo fica doido quando passa na calçada
Essa preta não é mole, sabe dar pernada
No seu protagonismo sou coadjuvante
Mulher pra mil talheres, para mil amantes
Engraçada, faceira, interessante
A jóia tá na loja, mas ela é o diamante
Eu ponho adjetivos sem olhar seu semblante
Faço novos versos inspirado num instante
Imagina só se conhecesse antes
Produziria mais que Vinícius e Dante

Quero juntar a minha literatura com a tua
Quero ajustar o meu relógio ao teu
Teus olhos me levam às alturas
Queria que eles fossem meus

Com esse sorriso não há
Nada que faça me cansar
A sua beleza me deixa em transe
Menina, me dê uma chance