Quarto de Despejo is a song in Portuguese
15 de julho de 1955
Uma mão que escrevia silêncio com grito
A burguesia leu: “é um caso perdido”
A favela leu disse: “é o que eu tenho vivido”
Eu também sou um caso perdido
Herdei a fome de procurar comida no lixo
Herdei a fome de procurar freestyle no escrito
Então leia as minha linhas como se você lesse um livro
Em mim não cabe ser o seu antagonismo
Eu mesma amassei o meu egocentrismo
Da fama e dinheiro não tenha imediatismo
Trate o rap como um prédio, no andar eu sou o quinto
Eu ardo mas não é aguardente, absinto
Me perdoem se tudo que eu vejo eu sinto
Me perdoem se tudo que eu vivi eu rimo
Eu decidi trocar o vitimismo pelo lirismo
Ainda que com o orgulho ferido
Não há outra opção, já estava decidido
Não sou a estrada, nem a ponto, eu sou o abismo
Então se jogue se quiser descobrir onde eu vivo
Se tratando de rap eu não brinco
Tentaram me prender mas eu quebrei o trinco
E na minha vingança sentiram o cola brinco
A meia noite me libertei vi o céu retinto
No retinto da noite eu pressinto o meu destino
No retinto da noite acompanhada meu caminho
No retinto da noite 13:8 Coríntios
“O amor nunca falha” ecoa nos meus ouvidos
Um dia eu e meus traumas seremos absolvidos
Nessa cela a 22 anos temos convivido
Egocêntricos de mais, se acham convencidos
Mas boas inspirações eles têm me servido
Sem psicoativos ou tratamentos paliativos
Uso rap 24/7 sem prescritivo
Invado corações em modo furtivo
A procura de loucuras no campo afetivo
Pra fechar o cadeado os últimos avisos:
Encontrar quem te olha com carinho é preciso
Não se pede perdão sem ter se arrependido
Não se escreve barras sem viver o improviso
“Levantei a 5 da manhã e fui carregar água”
Carolina Maria de Jesus, 1 de janeiro 1960